All sorts of jazz, free jazz and improv. Never for money, always for love.
É sabido como o jazz do Canadá se interessa muito especialmente pelo que acontece na música improvisada europeia, assim como é do conhecimento comum que a livre-improvisação escandinava se fascina com o free jazz do Novo Mundo. Nessa medida, a presença neste trio de um clarinetista canadiano do “novo jazz”, François Houle, e de um baterista sueco da “improv”, Raymond Strid, só poderia providenciar um cruzamento de vocabulários e gramáticas entre os dois campos. Joelle coloca-se a meio com o seu contrabaixo, já por si o mais aglutinador dos instrumentos, e gere essas trocas com mestria. Assim, neste registo ao vivo no festival Sons d’Hiver de 2009 ouvimos Houle a entrar por intervenções que mais parecem electrónicas, ultrapassando os limites do seu “woodwind”, e Strid a contrabalançar o abstraccionismo tendencial com cirúrgicos, mas por vezes agressivos, golpes de baqueta, introduzindo as tramas no invólucro do tempo, mas sem impor métricas fixas e só intervindo quando o que pode fazer marca, realmente, a diferença – seja porque convida a uma inflexão de caminho ou porque o que acrescenta faz falta ao todo.
O panorama de “Last Seen Headed” é bem distinto do de “Transatlantic Visions”: em vez de um constante metamorfoseamento, exploram-se linhas de evolução contínua, apenas com a bateria como “carta fora do baralho”, embora circunscrita às regras do jogo. A esse nível, o disco toma inclusive um carácter paisagístico, ambiental mesmo, que contrasta com os usos e costumes tanto do jazz como da improvisação livre. Aqui, Léandre funciona totalmente para o conjunto, apenas se colocando na frente quando tal faz sentido, e nesse actuar espontâneo, mas “estruturante”, é simplesmente brilhante.
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