All sorts of jazz, free jazz and improv. Never for money, always for love.
Fred Anderson está doente, diz-se por aí. Teme-se o pior,
já que é irreversível; foi a idade (78) que entrou
por ele adentro e tomou conta do momento. Em 2003, Fred estava bem de saúde.
Tinha-a para dar, vender e tocar saxofone. Um rio de enorme caudal brotava
cada vez que o seu sopro enchia os ares. Tal como aconteceu no Vision Festival,
em dupla com o contrabaixista Harrison Bankhead (8 Bold Souls e Frequency),
funcionário público de profissão, músico nas
horas livres, que os tempos não correm de feição para
viver exclusivamente da música, possibilidade reservada apenas a
uma minoria. Bankhead, também ele oriundo de Chicago, possui um som
cheio e escuro, lírico sem cair no adocicado. Fred & Harrison,
um duo de saxofone tenor e contrabaixo pleno de empatia comunicativa, convergente
na partilha do mesmo tempo e espaço, um a funcionar como a sombra
do outro, alternadamente, como se não fosse possível viverem
separadamente, tal é a coesão e a vontade consequente de se
entenderem, no palco como na vida. Em The Great Vision Concert, tanto durante
o anúncio dos temas (todos de Fred Anderson: Cloverleaf; Wandering;
Trying to Catch the Rabbit; e The Strut) como na improvisação,
o duo swinga a valer, alternando entre tonalidades sombrias e momentos
de clara luminosidade. Assinale-se a plena comunhão de pontos de
vista, construída a partir das bases em que assenta a linguagem comum,
o leite onde ambos beberam: os blues e a tradição que vem
do bop, isto é, Chicago de ponta a ponta. Esta visão histórica
é temperada pela abordagem personalizada – a revisão
da herança recebida dos antigos, a que eles mesmos acrescentam lastro,
espelhado no calor da emoção partilhada por estes dois espíritos,
unidos pelo mesmo sentido de risco e atrevimento, projectado muito para
além das paredes do Vision Festival (e do Velvet Lounge, clube onde
Fred Anderson trabalha desde 1979, espaço entretanto desalojado para
nele ser construída uma torre de apartamentos).
Louvor a Jan Ström, curador da Ayler Records, por ter querido partilhar
connosco este que foi seguramente dos grandes momentos do Vision de 2003.
Tal como a voz que se ouve repetidamente no final do concerto, apetece dizer:
"Thank you!"
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